A Singularidade
Se você acha muito tudo que já viu e leu sobre a internet, prepare-se para surpresas cada vez maiores. Neste momento, dezenas de cientistas, principalmente nos Estados Unidos, na Inglaterra e em Cingapura, trabalham firme na busca da fusão do sistema nervoso humano com a internet. Seria a criação da rede mundial de mentes.
Cerca de trinta anos atrás, um autor científico chamado David Ritchie escreveu um livro chamado “O Célebro Binário” (The Binary Brain). Nesta obra ele comemora “a síntese da inteligência humana e da inteligência artificial”, encontrada em algo que ele chamou de biochip. Ele se maravilhava com o encontro de tal possibilidade a ponto de escrever que “plugaríamos à memória de um computador tão facilmente como calçamos nossos sapatos. Nossa mente será preenchida pelas informações armazenadas no computador e poderíamos virar especialistas em qualquer assunto instantaneamente”. E previa que veríamos isso antes do final do século XX. Ainda não chegamos lá, mas...
Pesquisa realizada pela revista The New York Review of Books localizou na Universidade de Brown, em Washington, nos Estados Unidos, o professor Theodore Berger que pesquisa há décadas próteses neurais. Ele começou a implantar em ratos um dispositivo que contorna o hipocampo de um cérebro danificado e trabalha no lugar da região afetada. Essa invenção está próxima de uma solução para a perda de memória corriqueira quanto para a perda patológica, principalmente, aquela associada ao Alzheimer. A esse processo também se dá o nome de “singularidade”.
A mesma revista americana localizou um escritor chamado Michael Chorost. Ele ficou totalmente surdo no ano de 2001. Ele nasceu nos EUA com grave perda de audição devido à rubéola. Sua audição foi recuperada quando fez implantes cocleares em seus ouvidos. O resultado mudou radicalmente a sua vida, a ponto de escrever um livro sobre o assunto chamado “Rede Mundial de Cérebros: a integração vindoura entre a humanidade, máquinas e a internet”. Na obra, ele defende a ideia de instalar computadores intracerebrais em todos os seres humanos. Assim, “assegura que a internet seria parte integral do ser humano e seu uso seria tão natural quanto o de nossas próprias mãos”.
Não é uma ideia nova. Já no século XVII, o pensador e filósofo francês Descartes (1596 a 1650) que também era físico e matemático, em sua obra “O Discurso do Método”, trazia a ideia de que “eu sou uma máquina que pensa. Os meus músculos são comandados pelo cérebro através do sistema nervoso” - Tratado do Homem. Ele acreditava que certas atividades humanas poderiam ser realizadas por máquinas, mas com algumas restrições. Na mesma obra, ele nega ao homem a capacidade de compreender de modo a responder ao sentido de tudo o que se diz na sua presença. É claro que Descartes não previa computadores, e nem mesmo a “Singularidade”. Seus estudos buscavam ou negavam Deus. Por isso a Igreja não lhe deu sossego e o excomungou. Sua visão de máquina humana estava mais ligada à metafísica que à evolução tecnológica.
Mas um dado curioso nessas pesquisas é que todos os gênios da era tecnologicamente avançada justificam seus inventos a partir de raciocínios filosóficos. Descartes negava Deus diante de sua extraordinária capacidade de razão. Mas que razão era essa que nem sempre o levava à sensatez? No mesmo “Discurso do Método”, uma das obras-primas da filosofia moderna, Descartes nos diz que, “de todos os que procuraram a verdade científica, só os matemáticos a encontraram, só os matemáticos formularam algumas demonstrações. Conseguiram demonstrar alguma coisa, com razões certas e evidentes”. É nessa época que ele encontra um método para tentar fundir as vantagens da lógica, da geometria e da álgebra. E é também quando formula as famosas quatro regras fundamentais.
A “Singularidade” começa a nascer na Idade Média, no Renascimento, quando surge a mecânica e com ela o aperfeiçoamento do mecanismo do relógio, uma nova concepção do homem. Dando um salto gigantesco na história, temos também Bill Joy, no século XX, fundador da Sun Microsystems em 1992, publicou no ano 2000 o artigo “Por que o futuro não precisa de nós?”, em que defende a ideia de que as máquinas inteligentes são perigosas demais e poderão facilmente fugir do nosso controle.
Com o tempo a “Singularidade” (etimologicamente se origina do substantivo Singular) encampou toda a síntese de explicações para a Singularidade Matemática. A enciclopédia Wikipédia define como o ponto onde uma função matemática assume valores infinitos e sem comportamento definido. Complicado. E daí saltamos para a Singularidade Tecnológica quando o computador desenvolve sua própria inteligência.
Nas palavras de Ray Kurzweil, um dos fundadores da Microsoft e inventor da máquina de leitura para cegos, em 2045, a parte artificial da inteligência da civilização de homens-máquinas será um bilhão de vezes mais poderosa do que a parte biológica. Isso significa que teremos ampliado um bilhão de vezes a inteligência dessa civilização. É uma mudança tão profunda que a chamamos de “Singularidade”.
Ray Kurzweil é autor, pesquisador e inventor. É também um dos profetas da tecnologia mais respeitados no mundo. Em recente livro, The Singularity is Near (A Singularidade está Próxima- Amazon.com) ainda sem tradução para o português, afirma que em 2029 a humanidade terá disponíveis os recursos de inteligência artificial necessários para que máquinas atinjam a inteligência humana, inclusive a inteligência emocional. E se você quiser saber mais, busque na internet ou nas livrarias outro livro desse gênio chamado “A era das Máquinas Espirituais”, em inglês The Age of Spiritual Machines. Vai se maravilhar com a leitura fascinante e assustadora.
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