Indiferença
Olho a minha volta e percebo que o mal de nossa sociedade atual é a indiferença. Consumimos as informações, as notícias, os relacionamentos a uma velocidade tal, que nos tornamos indiferentes. Nada nos atinge de uma forma duradoura. A indiferença nos transforma em seres de sentimentos instantâneos, rápidos e que não permanecem. Não deixam pegadas nos nossos espíritos.
A multiplicidade de tragédias que nos atingem diariamente, locais e do outro lado do mundo, por chegarem de forma instantânea e simultânea nos atingem da mesma forma e são tantas que ficamos anestesiados e esquecidos. Sim! Esquecemos rapidamente para dar lugar às últimas e novas tragédias. Somos condicionados pela leitura de jornais e noticiários televisivos que não tem espaço para falar de tantos problemas: corrupção que origina desabamentos, famílias despejadas morando na rua, juízes assassinados, tsunamis, devastações, inundações, terremotos. Não lembro quem falou, mas repito: “1 morto é uma tragédia, 1.000 mortos uma estatística”.
Ontem à noite um amigo contou-me duas histórias que realmente descrevem ao ponto que temos chegado. Seu ex-cunhado está morrendo, abandonado por seus próprios filhos. Pode ou não existir razões que justifiquem a atitude dos filhos, mas o homem está morrendo. Quando meu amigo avisou que o pai estava morrendo ficaram indiferentes. Meu amigo diz que a próxima vez que os encontre e caso perguntem pelo pai, lhes dará o novo endereço para que lhe façam uma visita (Cemitério...., quadra...., cova...). Após comentou que esteve no enterro de um velho amigo e que as únicas duas pessoas presentes foram ele e a esposa do amigo. Nenhum filho, neto, sobrinho ou conhecido. Triste, não?
A indiferença é o contrário de colocar-se no lugar do outro. Tem um ditado dos indígenas americanos que diz: “Somente podemos opinar sobre a vida de outra pessoa se temos caminhado pelos menos 1.000 milhas com seus mocasins”. Quando dizemos que morrem milhares de pessoas de fome no mundo por hora estamos falando de uma estatística, estamos alimentando a nossa capacidade de indiferença ante a fome do próximo.
Quando ficamos indiferentes a uma pessoa caída na rua, sem saber se está doente ou morta, é um sinal do grau de indiferença ao qual nossa sociedade tem chegado, mas quando filhos ficam indiferentes a morte iminente do pai se há chegado ao fundo do poço.
Indiferença quando se dá uma sentença, quando se calcula a estrutura de um edifício, quando se é responsável por verbas públicas, quando tratamos da educação, quando cuidamos de um doente, quando lidamos com a natureza, quando fazemos jornalismo, nos leva ao abismo. Um abismo no qual é mais importante a última notícia sobre o BBB12 ou se Luiza voltou ou não do Canadá.
Talvez a esperança esteja num “meme” que diga: Meu amigo se importou. Foi o único que ajudou.
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