quarta-feira, 7 de março de 2012

METRÔ


Ocupar as áreas remanescentes do Metrô
Mair Pena Neto
Em artigo publicado no Globo, no dia 25 de fevereiro, o arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot vaticinou que "as cidades bem sucedidas no século XXI serão aquelas que agregarem, em seus espaços urbanos, ambientes coletivos agradáveis, acolhedores e acessíveis a todos, sem distinção de raça e de classe social". E concluiu seu raciocínio afirmando que "esse projeto tem tudo a ver com o Rio que queremos construir".
Esse conceito me veio à mente, há poucos dias, quando estive em um prédio comercial na Rua Dois de Dezembro, no Catete. Do hall dos elevadores, como se dizia no Maracanã, no nono andar, pude observar, de cima, o terreno remanescente do metrô, que cobre área equivalente a um bom quarteirão, entre a Dois de Dezembro e a Machado de Assis, com a Rua do Pinheiro e a Rua de serviço atrás do cinema São Luiz completando o quadrilátero.
Ali estava uma praça perfeita e charmosa, dessas meio escondidas, que nos surpreendem nas cidades, como a Praça São Salvador, meio escondida entre Laranjeiras e o Flamengo. Como o terreno só possui uma pequena construção, de um pavimento, e já conta com algumas árvores, era possível vislumbrar uma excelente área de convivência, com bancos, brinquedos, e, quem sabe, até um café, proporcionando um oásis em meio à selva de pedra destas transversais da Rua do Catete.
Saí de lá entusiasmado com a descoberta, e, principalmente, com a possibilidade, mas levei uma ducha de água fria ao comentar o assunto com um amigo, conhecedor dos meandros das administrações pública municipal e estadual, que me disse que todas as áreas que sobraram das obras do metrô serão vendidas.
Ainda estava meio inconformado com isso, quando passei pela Rua Muniz Barreto, esquina com São Clemente, em Botafogo, e vi que uma quadra de futebol de salão usada pela garotada do bairro, estava cercada de tapumes de um empreendimento comercial. A quadra ficava justamente em frente a uma das saídas da estação do metrô de Botafogo, o que reforçava o sentido do que me fora dito por meu amigo.
Essas coisas nos desanimam, mas não podem nos derrotar. Esse mesmo amigo participou ativamente da luta popular por uma área de lazer em Botafogo, em área do metrô, que deu origem a hoje simpática Praça Mauro Duarte, que homenageia um bamba do samba, que morou no bairro. A conquista da praça se deu de forma bem carioca, por meio de rodas de samba, consagrando o local como espaço de manifestações culturais.
O episódio revela que a mobilização popular pode garantir ao povo do Rio de Janeiro a cidade que deseja. Carioca gosta de rua e de espaço para se divertir e confraternizar. Ocupar as áreas remanescentes do metrô com atividades lúdicas seria uma estratégia interessante. Os muitos blocos de carnaval, que se espalham por diferentes bairros, poderiam ser a vanguarda desse processo, comandando as conquistas com alegria e bom humor. A força avassaladora que arrastou milhares às ruas nos dias de folia pode muito bem ser aproveitada para melhorar a qualidade de vida na nossa cidade amada.




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