Energia Fóssil
CCS – Captura e Armazenamento de Carbono
Alertas sobre a urgência do problema climático não são hoje o bastante para livrar o planeta da dependência aos combustíveis fósseis, por isso tecnologias como a CCS (Carbon Capture and Storage - Captura e o Armazenamento de Carbono) surgem como uma saída para reduzir o aquecimento global.
A tecnologia CCS consiste na captura de Gases do Efeito Estufa (GEE) nas fontes emissoras, como usinas energéticas, e o armazenamento no subsolo, em poços de petróleo desativados ou camadas geológicas. Alguns especialistas dizem que a CCS pode conter 1/3 de todas as emissões de dióxido de carbono (CO2) presentes na atmosfera, em um mercado que poderá representar US$150 bilhões no futuro.
O tema causa polêmica e está no centro das discussões do pacote energético da União Européia. A proposta é criar um fundo com recursos vindos do esquema de comércio de emissões europeu (EU ETS) para investir em 15 projetos experimentais de CCS, que entrariam em funcionamento até 2015.
O pacote inclui ainda obrigações de uso de energias renováveis e metas de redução de emissões em 20% em 2020.
Para o professor da COPPE/UFRJ, Roberto Schaeffer, doutor em planejamento energético, não será possível reduzir as emissões de GEE rápido o suficiente para evitar as mudanças climáticas. "Por isso, a CCS pode ser um paliativo interessante, junto a outras coisas”, comenta.
Schaeffer define a CCS como um ‘mal necessário’, uma vez que o mundo não irá se adaptar a um novo padrão energético no ritmo que se desejaria. Nas refinarias de petróleo, onde há um grande uso de energia, esta tecnologia poderia reduzir as emissões em 10%, exemplifica o especialista.
Um relatório divulgado pela consultoria norte-americana McKinsey and Co. no final de setembro afirma que a aplicação de CCS poderia se tornar viável economicamente sem a ajuda de recursos públicos em 2030 se fossem reduzidos os obstáculos a esta tecnologia e as indústrias poluidoras fossem forçados a pagar mais para emitir CO2 em esquemas ‘cap and trade’ (limite e negociação).
“Quase todos os países e até mesmo as grandes empresas de petróleo pesquisam, hoje, novas formas de energia, que sejam mais limpas e substituam os combustíveis fósseis. Mas a realidade é que o mundo ainda é profundamente dependente do petróleo”, afirma a Petrobras por meio da Assessoria de Imprensa.
A CCS está nos planos estratégicos da estatal brasileira, que desde 2006 investe na Rede Temática de Seqüestro de Carbono e Mudanças Climáticas, formada por 18 instituições de pesquisa nacionais, e criou o Centro de Excelência em Pesquisas sobre o Armazenamento do Carbono para a indústria de petróleo (CEPAC), sediado no campus da PUC do Rio Grande do Sul.
A meta da empresa é ser líder nesta tecnologia. “A Petrobras acredita que a atenção a tecnologias de seqüestro de carbono é fundamental para a solução das questões relativas à mudança climática” declara a Assessoria de Imprensa da estatal.
Riscos e custos
A defesa feita por alguns políticos europeus e fornecedoras de energia, contudo, está longe de ser uma posição unânime. O diretor-presidente do Instituto para o Desenvolvimento das Energias Renováveis na América Latina (Ideal) Mauro Passos olha com ressalvas a CCS e destaca o alto custo da tecnologia.
“Acho que é um remendo a uma situação que nós criamos e talvez não estejamos querendo ir de imediato para outra direção”, comenta. Passos afirma que o ponto de partida do debate está equivocado, pois se discute uma maneira de minimizar o impacto da queima do carvão, enquanto a questão crucial deveria ser queimar ou não carvão.
“Eu sinceramente não vejo isso como um bom caminho”, opina.
O Greenpeace e outras entidades também já divulgaram relatórios condenando esta solução para o problema climático. “A CCS não funcionará a tempo para evitar os perigos das mudanças climáticas”, traz o documento “Uma Falsa Esperança: Por que a captura e armazenamento de carbono não pode salvar o clima”.
Segundo a ONG, o uso de CCS em grande escala não deve ser esperado para antes de 2030 e, as emissões de gases do efeito estufa devem começar a cair em 2015 para evitar as conseqüências climáticas mais graves.
O Greenpeace afirma ainda que a CCS desperdiça energia. “A tecnologia usa entre 10% a 40% da energia produzida nas usinas energéticas. A adoção em larga escala acabaria com os ganhos de eficiência dos últimos 50 anos e aumentaria o consumo de recursos em 1/3”, ressalta no relatório.
Outro ponto levantado pela instituição é o risco que esta tecnologia representa. “A segurança e permanência do armazenamento de CO2 não podem ser garantidos. Mesmo um pequeno vazamento poderia prejudicar qualquer esforço de mitigação climática”, informa o documento.
Segundo o Greenpeace, o correto seria investir em fontes renováveis de energia e consumo eficiente.
A lista de argumentos contra e a favor é longa e, entre defensores, lobistas, críticos e observadores internacionais, o debate parece estar longe do fim. Contudo, no meio de tanta incerteza, uma coisa parece estar certa. Não será nada fácil acabar com o vício a fonte que fez o mundo crescer nos últimos 150 anos. “Até 2050, o mundo não deixará de usar petróleo”, conclui enfático o professor Schaeffer.
Legislações propostas
Europa
Uma legislação em discussão na União Européia propõe que todas as usinas de carvão que forem construídas depois de 2015 utilizem tecnologias de CCS. O dinheiro arrecadado com o leilão das permissões negociadas sob o esquema de comércio de emissões da União Européia será utilizado para financiar as usinas de carvão com tecnologias de CCS. A lei foi apelidada de “Cláusula Schwarzenegger” em referência ao governador da Califórnia, que impôs padrões para as usinas de carvão.
Sob a proposta, as novas usinas energéticas com capacidade superior a 300 megawatts poderão emitir no máximo 500g de dióxido de carbono por quilowatt hora, em uma média anual, depois de 2015. Isto proibiria novas usinas de queima de carvão que tipicamente emitem entre 700g e 850g de CO2 por quilowatt hora e novas usinas de queima de petróleo que emitem 590g por quilowatt a cada hora, ao mesmo tempo em que permitiria usinas de queima de gás natural e aquelas com sistemas de CCS embutidos.
“Não ao carvão é igual a nenhuma luz. Nenhuma energia. Nenhum futuro”, disse no último mês o ex-secretário de negócios do Reino Unido, John Hutton.
Austrália
Na Austrália, uma legislação em tramitação no parlamento federal tem causado polêmica no país, pois autoriza as usinas energéticas poluidoras a capturarem e enterrarem o dióxido de carbono (CO2) emitido, porém manda a conta nada barata do uso desta tecnologia para os contribuintes pagarem.
“O comitê quer empurrar estas descobertas que tirou do bolso do setor carvoeiro para dizer a comunidade australiana que nós teremos que carregar os custos que cabiam às gigantes do carvão super-lucrativas”, disse a porta-voz do partido verde, Christine Milne.
Oxyfuel
A primeira usina energética de queima de carvão que captura e armazena as próprias emissões de dióxido de carbono (CO2) foi lançada em setembro de 2008 pela empresa sueca Vattenfall, na cidade alemã de Spremberg.
O projeto piloto de 30MW, minúsculo frente à usina vizinha Schwarze Pumpe, que produz 1600MW, foi construído para testar uma nova tecnologia de captura de carbono. A caldeira queima o carvão em uma atmosfera onde existe praticamente só oxigênio puro ao invés de ar. Este processo chamado “oxyfuel” cria um fluxo de vapor de água e CO2, do qual é relativamente fácil capturar o CO2.
O processo tradicional de captura de carbono pós-combustão extrai o CO2 do resíduo líquido impuro produzido depois que o carvão é queimado e exige uma alta quantidade de energia, além de ser um processo caro. Apesar de a usina ‘oxyfuel’ ser mais econômica, também gasta energia ao separar o nitrogênio e outras impurezas do ar.
A Vattenfall gastou 70 milhões de euros no projeto, mas o considera um investimento de pesquisa e não uma oportunidade comercial. “Nós estamos queimando dinheiro e ganhando conhecimento”, disse o porta-voz da empresa, Staffan Gatze.
A partir do primeiro trimestre de 2009, quatro ou cinco caminhões farão uma fila todos os dias em frente à usina para carregar o CO2 líquido para uma área a 160 quilômetros ao norte, onde será injetado a três mil metros de profundidade no poço de petróleo desativado de Altmark. Segundo Gatze, uma forma comercial do processo usaria canos para transportar o CO2.
A empresa espera que o protótipo sirva para mostrar os benefícios da captura através da tecnologia oxyfuel em comparação com a captura na pós-combustão, além de uma terceira opção, a captura na pré-combustão, na qual o combustível fóssil é transformado em um gás sintetizado e, do qual, é removido o CO2 antes do hidrogênio remanescente ser queimado.
Diversas outras mini-usinas pilotos ‘oxyfuel’ são planejadas na França e Austrália, o que irá demonstrar a cadeia completa de captura e armazenamento de carbono.
Vattenfall planeja fazer uma demonstração da tecnologia ‘oxyfuel’ em escala comercial em uma das caldeiras da usina em Janschwalde, na Alemanha, em 2013, com uma caldeira fazendo a demonstração do processo de captura pós-combustão em paralelo.