Não é para brincar
*Arthur Virgilio
Lisboa - O quadro internacional se agrava. A zona do euro vive momentos de muita incerteza, com Itália e Espanha se somando a Portugal e Grécia na lista dos países problemáticos. Largar Grécia e, eventualmente, até Portugal, ao mar, poderia refletir um erro político sem repercussões econômicas fundamentais para os demais integrantes da União Européia. Abandonar Itália e Espanha, que, juntos, beiram 30% do PIB dessa mesma zona do euro, seria impensável, tanto sob o prisma político, quanto, obviamente, sob o ângulo econômico. Os Estados Unidos não conseguem fazer avançar um projeto de austeridade, porque democratas e republicanos não se entendem e porque estes se portam diante de Obama, com o mesmo radicalismo irresponsável que os petistas manifestavam na direção de Fernando Henrique.
A China, ameaçada por inflação ainda controlada, porém elevada e renitente, poderá desacelerar seu crescimento em alguns pontos, em 2012. E isso, mais do que o conjunto da crise, atingiria o Brasil, grande vendedor de commodities para os chineses, em cheio. O mundo deverá passar bons anos crescendo pouco. Os tempos das vacas gordas, que Lula deveria ter aproveitado para, sacrificando parte de sua popularidade, retomar o ciclo das reformas estruturais, definitivamente passou. O Brasil poderia ter dado o grande salto, todavia nosso festejado animador de auditório optou pela “glória” imediata e por uma posição medíocre na História.
Continuamos com uma economia de perfil basicamente agroexportador, à exceção de uma Embraer, para exemplificar. Não menosprezo o valor das commodities para nossa balança comercial. Sei da importância do agronegócio. Sei também que, ao contrário da China, não estamos sabendo alterar o perfil da nossa pauta de exportações e isso nos limita e escraviza.
Se o gigante asiático espirrar, pegaremos uma pneumonia. Ninguém se iluda quanto a isso. Neste ano, cresceremos algo parecido com 3%, contra inflação que beira os 7%, acima do teto superior da meta de 4.5% Só para ilustrar: 4.5% já é inflação demais para uma economia que se pretenda civilizada e de crescimento sustentável. O Peru crescerá, neste mesmo 2011, acima de 7%, contra inflação de apenas 2%.Deveríamos ter inflação de 3% no máximo, acompanhada de crescimento entre 4% e 4.5%. Pois em 2012 teremos inflação próxima de 6% e crescimento em volta de 3% outra vez. Isso se o mundo, em suite à crise iniciada em 2008, não entrar em parafuso outra vez.
Não é hora para brincar, presidente Dilma. Reforme Ministério, tornando-o reto e competente. Pare de interferir nas decisões do Banco Central e de contemporizar com a inflação. Se a senhora está pensando em votos, saiba que a mágica do Bolsa Família irá pelos ares, se a inflação disparar. Como está ela já é incômoda o suficiente para os brasileiros pobres.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado.
*Arthur Virgilio
Lisboa - O quadro internacional se agrava. A zona do euro vive momentos de muita incerteza, com Itália e Espanha se somando a Portugal e Grécia na lista dos países problemáticos. Largar Grécia e, eventualmente, até Portugal, ao mar, poderia refletir um erro político sem repercussões econômicas fundamentais para os demais integrantes da União Européia. Abandonar Itália e Espanha, que, juntos, beiram 30% do PIB dessa mesma zona do euro, seria impensável, tanto sob o prisma político, quanto, obviamente, sob o ângulo econômico. Os Estados Unidos não conseguem fazer avançar um projeto de austeridade, porque democratas e republicanos não se entendem e porque estes se portam diante de Obama, com o mesmo radicalismo irresponsável que os petistas manifestavam na direção de Fernando Henrique.
A China, ameaçada por inflação ainda controlada, porém elevada e renitente, poderá desacelerar seu crescimento em alguns pontos, em 2012. E isso, mais do que o conjunto da crise, atingiria o Brasil, grande vendedor de commodities para os chineses, em cheio. O mundo deverá passar bons anos crescendo pouco. Os tempos das vacas gordas, que Lula deveria ter aproveitado para, sacrificando parte de sua popularidade, retomar o ciclo das reformas estruturais, definitivamente passou. O Brasil poderia ter dado o grande salto, todavia nosso festejado animador de auditório optou pela “glória” imediata e por uma posição medíocre na História.
Continuamos com uma economia de perfil basicamente agroexportador, à exceção de uma Embraer, para exemplificar. Não menosprezo o valor das commodities para nossa balança comercial. Sei da importância do agronegócio. Sei também que, ao contrário da China, não estamos sabendo alterar o perfil da nossa pauta de exportações e isso nos limita e escraviza.
Se o gigante asiático espirrar, pegaremos uma pneumonia. Ninguém se iluda quanto a isso. Neste ano, cresceremos algo parecido com 3%, contra inflação que beira os 7%, acima do teto superior da meta de 4.5% Só para ilustrar: 4.5% já é inflação demais para uma economia que se pretenda civilizada e de crescimento sustentável. O Peru crescerá, neste mesmo 2011, acima de 7%, contra inflação de apenas 2%.Deveríamos ter inflação de 3% no máximo, acompanhada de crescimento entre 4% e 4.5%. Pois em 2012 teremos inflação próxima de 6% e crescimento em volta de 3% outra vez. Isso se o mundo, em suite à crise iniciada em 2008, não entrar em parafuso outra vez.
Não é hora para brincar, presidente Dilma. Reforme Ministério, tornando-o reto e competente. Pare de interferir nas decisões do Banco Central e de contemporizar com a inflação. Se a senhora está pensando em votos, saiba que a mágica do Bolsa Família irá pelos ares, se a inflação disparar. Como está ela já é incômoda o suficiente para os brasileiros pobres.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado.
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