Lei Geral da Copa: Circo, acusações e caipirinha
Em mais uma rodada de discussões sobre a Lei Geral da Copa, o conjunto de compromissos que o governo brasileiro firmou para garantir o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014, o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, voltou a cobrar nesta terça-feira (08/11) das autoridades mais agilidade na condução de obras prioritárias para o campeonato. Na Câmara dos Deputados, classificou como "pesadelo" a dificuldade de se encarar o trânsito caótico de São Paulo, estimou em cerca de R$ 1,5 mil o ingresso mais caro para o Mundial e relembrou que "não é bom" ter greves trabalhistas nos estádios.
Confrontado com deputados que historicamente questionam a FIFA e suas suspeitas de irregularidades, Valcke ficou na defensiva ao ser pressionado pelo deputado Romário (PSB-RJ) a se explicar sobre a polêmica troca irregular da Mastercard pela Visa como patrocinador do Mundial. Então diretor de marketing da entidade, Jérôme Valcke foi responsável por impor à FIFA uma condenação judicial de US$ 90 milhões (cerca de R$ 156,6 milhões) pelo caso.
"Existem jogadores de futebol brasileiros por todo o mundo. Alguns deles continuam artilheiros quando são deputados e esses gostam de chutar a bola. Tudo bem é justo, é uma democracia. Em uma democracia você tem direito de perguntar o que quiser como eu tenho o direito em uma democracia de não responder a pergunta se eu não quiser", disse o secretário-geral após ter enfrentado, ao lado do aliado Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma sabatina de quase três horas em Brasília.
"Isso é um circo", chegou a afirmar Romário após não ter conseguido as explicações sobre fraudes na FIFA nem de Valcke nem de Teixeira, que foi questionado diretamente se teria recebido propina para garantir à empresa de marketing ISL (International Sport and Leisure), vinculada à autoridade máxima do futebol, a lucrativa comercialização de direitos de transmissão da Copa do Mundo nos anos 90.
Sem cálculos definitivos, Valcke limitou-se a pontos práticos do Mundial. Disse aos parlamentares ser a favor de uma ala específica nas torcidas, denominada de categoria 4, para ingressos mais populares, na casa dos US$ 25 (R$ 43). Nessa categoria, o governo brasileiro poderia, segundo ele, abrigar idosos, que por lei nacional têm direito à meia entrada, e outros grupos de interesse das autoridades nacionais, como estudantes, carentes ou indígenas. Os lugares mais privilegiados nas arenas, estimou ele, os torcedores precisariam desembolsar US$ 900, ou R$ 1574, para assistir a uma partida.
"É verdade que a FIFA não gosta dessa meia entrada. Ao invés de haver diferentes grupos com acesso a meia entrada, propus à presidente Dilma Rousseff que coloquemos uma categoria 4, que será diferente, que será reservada apenas para os brasileiros. Nessa categoria trabalharemos como quiserem e vamos ver como assegurar acesso a estudante nessa categoria 4", explicou ele.
Confrontado com valores para a construção de estádios, o secretário-geral da FIFA disse que uma arena não precisa ter "obras de arte" ou custos supérfluos e declarou que um dos maiores problemas das autoridades brasileiras não são os locais dos jogos, e sim como viabilizar condições para que profissionais e torcedores possam se locomover tranquilamente pelas 12 cidades-sede.
"O Brasil, definitivamente, não está adiantado. O problema não são os estádios. Nós sabemos que vai haver estádios ao final. Haverá estádios incompletos para a Copa das Confederações, mas teremos o número necessário de estádios para organizar a Copa do Mundo. O que é preciso garantir é que esses 500 mil turistas que vêm ao Brasil para aproveitar a Copa do Mundo tenham condições de se deslocar pelo País", disse.
No Congresso Nacional, ele defendeu os patrocinadores da FIFA e voltou a se manifestar em favor da liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa do Mundo. Diante dos parlamentares, chegou a desafiar que se prove que a comercialização de cerveja nas arenas aumente os índices de violência entre torcedores nas partidas e disse que a venda de álcool nos estádios não significa que a "FIFA está aqui para embebedar as pessoas".
"É verdade que limitar o álcool reduz muito a violência, mas na África do Sul, na Alemanha, a venda de cerveja em condições controladas nunca provocou nenhum tipo de violência ou guerra nos estádios. Temos esse acordo, seja com nosso patrocinador Budweiser ou diferentes organizações, que pode haver venda de álcool controlada nos estádios. Quer dizer que controlamos como ela pode ser distribuída. Não pode ser distribuída, por exemplo, em garrafas para que não possa ser utilizada como arma contra torcedores ou jogadores", explicou.
Após a rodada de discussões com os deputados, Jérôme Valcke foi recebido com feijoada e caipirinha na residência oficial do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).
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