sábado, 12 de novembro de 2011

MUDANÇAS AMBIENTAIS

ONU e as mudanças ambientais dos últimos 20 anos
Relatório do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) descreve as transformações que o planeta passou nas últimas duas décadas, incluindo dados populacionais, de biodiversidade e sobre o aquecimento global, com o objetivo de servir de base para os debates na Rio+20.
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), agendada para o mês de junho de 2012, será precedida pela publicação de diversos estudos e relatórios que devem facilitar às delegações dos países participantes a entender melhor o que está em jogo e o que precisa ser feito para a conservação ambiental do planeta.
Possivelmente, o mais importante documento a ser divulgado antes da Rio+20 será o “Panorama Ambiental Global-5” (Global Environmental Outlook-5 ou, simplesmente, GEO -5). Preparado pelo PNUMA, o GEO-5 será publicado em maio do ano que vem e trata-se da maior compilação de dados sobre a condição atual dos ecossistemas terrestres, já realizada.
Nesta semana, o PNUMA divulgou uma parte deste esforço, um relatório intitulado “De olho no meio ambiente em mutação: Do Rio à Rio+20”.
Através de dados, gráficos e imagens de satélite, o documento oferece informações sobre uma série de questões-chave: população, mudanças climáticas, energia, eficiência no uso de recursos, florestas, segurança alimentar, uso do solo e água potável; com exemplos que vão desde o derretimento de geleiras no oceano Ártico até as novas tendências no uso de energia.
 “O relatório nos leva de volta ao nível básico, destacando desde o rápido acúmulo de gases de efeito estufa até a erosão da biodiversidade e o aumento de 40% no uso dos recursos naturais, mais rápido do que o crescimento da população global. Mas o relatório também mostra o modo como, quando há uma reação, é possível alterar drasticamente a trajetória de tendências perigosas, que ameaçam o bem-estar humano, as iniciativas para acabar com produtos químicos que prejudicam a camada de ozônio compõem um exemplo vivo e poderoso”, afirmou Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA.
Panorama
Sobre a população, o documento destaca que chegamos aos sete bilhões e que o número de pessoas vivendo em áreas urbanas aumentou 45% desde 1992. A quantidade de megacidades com mais de 10 milhões de habitantes passou de 10 para 21. Apesar do número de pessoas vivendo em favelas ter diminuído em quase 15%, cerca de 1,4 bilhão de seres humanos ainda não tem acesso à eletricidade.
O cenário também não é positivo para as mudanças climáticas, uma vez que foi registrado um aumento contínuo no uso de combustíveis fósseis e nas emissões de gases do efeito estufa mundiais. Globalmente as emissões subiram 36% entre 2002 e 2008, passando de 22 bilhões de toneladas para mais de 30 bilhões. Mais de 80% dessas emissões são provenientes de apenas 19 países.
Segundo o PNUMA, praticamente todas as geleiras do planeta vem sofrendo um processo de retração e desaparecimento, que resulta no aumento do nível dos oceanos e em impactos para os ecossistemas. O nível dos oceanos subiu cerca de 2,5mm por ano desde 1992.
Outra preocupação com os mares é a crescente acidez. Entre 1992 e 2007 o pH caiu de 8.11 para 8.06, o que afeta os animais marinhos e principalmente corais, que correm o risco de desaparecer até o fim do século.
Com relação às florestas, a taxa de desmatamento sofreu uma queda, porém o mundo perdeu mais de 300 milhões de hectares desde 1990. Aproximadamente 13 milhões de hectares foram perdidos anualmente entre 2000 e 2010, essa marca foi de 16 milhões de hectares na década anterior.
Os dados para as espécies são também ruins, com mais de 12% da biodiversidade sendo perdida em nível global nos últimos 20 anos. A situação é pior nos trópicos, onde a porcentagem é de 30%.
Quase 20% dos vertebrados estão ameaçados, sendo que os anfíbios são os mais vulneráveis, com 41% das espécies em risco. Segundo dados da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), aproximadamente 25% das espécies de plantas também correm risco de desaparecer.
Nem tudo são números negativos no relatório do PNUMA. As energias renováveis apresentaram um grande crescimento, chegando a responder por 16% da geração global em 2010.
Devido à queda nos preços e políticas de incentivo, o uso do biodiesel cresceu 300.000% nos últimos 20 anos, a energia solar 30.000%, a eólica 6000% e os biocombustíveis 3500%.
Os investimentos no setor dispararam, tendo alcançado em 2010 a marca de US$ 2,11 bilhões, 32% a mais do que 2009 e cerca de cinco vezes mais do que em 2004.
Caminhos para soluções
O relatório destaca alguns avanços desde 1992 para melhorar a situação ambiental. Reconhece principalmente o crescimento da noção da economia de baixo carbono e as ferramentas que surgiram para incentivá-la.
A reciclagem, por exemplo, já é uma prática comum em muitos países e o uso eficiente dos recursos naturais e da eletricidade virou um dos objetivos de companhias em todo o mundo.
Ferramentas como os mercados de carbono, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e outras formas para financiar ações climáticas e ambientais foram criadas desde a Eco92 e vem ganhando força.
A produção orgânica de alimentos e os selos de garantia de sustentabilidade se popularizaram e hoje são importantes opções para os consumidores conscientes.
O PNUMA acredita que a Rio+20 é a oportunidade ideal para que os países se comprometam a seguir esses caminhos que levam rumo o desenvolvimento sustentável.
“A Rio+20 pode garantir o impulso necessário para que a economia verde entre de vez nos programas de governo e da iniciativa privada. O desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza devem ser os grandes objetivos a ser alcançados pelas lideranças no Rio de Janeiro”, concluiu Steiner.


Níveis de CO2 estão mais altos
Departamento de Energia dos EUA calcula que a emissão de CO2 chegou à maior quantidade já registrada e aponta que países do Protocolo de Quioto conseguiram cumprir suas metas, mas EUA, China e Índia somaram mais de metade do aumento.


Em 2010, após a crise financeira ocorrida em 2008 e 2009, o mundo começou a retomar seu desenvolvimento econômico, mas não foi só a economia que cresceu. Segundo o Departamento de Energia dos EUA, as emissões globais de dióxido de carbono subiram 6% no último ano, atingindo o mais alto nível já registrado.
De acordo com o departamento, a liberação mundial de gases do efeito estufa (GEEs) aumentou em 564 milhões de toneladas (512 milhões de toneladas métricas) em relação à taxa de emissão de 2009.
“É um grande salto. Do ponto de vista das emissões, a crise financeira global parece ter acabado”, declarou Tom Boden, diretor do Departamento de Energia do Centro de Análise da Informação do Laboratório Nacional Oak Ridge dos Estados Unidos, a Associeted Press (AP).
“Quanto mais falamos sobre a necessidade de controlar as emissões, mais elas estão crescendo”, alertou John Reilly, co-diretor do Programa Conjunto de Ciência e Política de Mudança Global do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Esse aumento nas emissões foi causado em grande parte pelos Estados Unidos, pela China e pela Índia, já que os países que assinaram o Protocolo de Quioto conseguiram reduzir sua liberação de carbono em 8% em relação aos níveis de 1990, diminuindo sua contribuição nas emissões mundiais de 60% em 1990 para menos de 50% atualmente.
Com esses dados, é possível perceber o quão alarmante é a situação, já que mesmo com a redução das emissões nos países do Protocolo, elas continuam a crescer. Para Granger Morgan, diretor de engenharia e do departamento de políticas públicas da Universidade de Carnegie Mellon, é “realmente desalentador. Estamos gerando um legado horrível para nossos filhos e netos”.
Esse nível de aumento já ultrapassou o pior cenário projetado por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em 2007, que previram que as temperaturas globais aumentariam entre 2,4 e 6,4 graus Celsius até o final do século, sendo a estimativa mais provável a de quatro graus Celsius. E com o crescimento desenfreado de países como a China e a Índia, essa condição só tende a piorar.
No entanto, segundo Reilly, esse crescimento tem seu lado positivo, pois vem permitindo que muitas pessoas melhorem suas condições de vida, porém é importante buscar alternativas menos impactantes ambientalmente para que essa melhora ocorra integralmente.
“A boa notícia é que essas economias estão crescendo rapidamente. Melhorias econômicas mais amplas em países pobres têm trazido melhorias de vida às pessoas. Mas fazer isso com dependência crescente no carvão está pondo o mundo em perigo”, alertou o co-diretor.
Mas há indícios de que estes países estão tomando algumas atitudes, ainda que poucas, para contribuir para um desenvolvimento de baixo carbono. Nesta semana, por exemplo, a China decidiu banir as importações de lâmpadas incandescentes de 100 MW ou mais a partir de outubro de 2012, as de 60 MW a partir de 2014 e as de 15 MW a partir de 2016.
Essa eliminação ajudaria o país a economizar 48 milhões de kWh e a reduzir 48 milhões de toneladas anuais de carbono assim que todas as lâmpadas incandescentes fossem abolidas. Além de contribuir com a mitigação das emissões chinesas, o plano também auxiliaria na diminuição de emissões em outros países, já que das 3,85 bilhões de lâmpadas incandescentes que a China produziu em 2010, apenas 1,07 bilhões foram consumidas domesticamente.
Nos Estados Unidos, um plano semelhante será adotado a partir de 2012; na Europa, a abolição gradual das lâmpadas incandescentes vem acontecendo desde 2008. “Precisamos realmente incluir o mundo em desenvolvimento [na mitigação das emissões] porque se não o fizermos, o problema vai escapar de nosso controle. E o problema está muito perto de escapar de nosso controle”, refletiu Andrew Weaver, cientista climático da Universidade de Victoria.


O Mercado de Carbono
O mercado europeu de carbono se estabilizou na semana passada, com as permissões de emissão (EUAs – European Union Emission) em alta de menos de 1% alcançando € 10,42 nos contratos para dezembro de 2011.
As Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) para mesma data subiram 1,3% ficando em € 7,03 na sexta-feira.
O pacote de regate da economia européia apresentado na quarta-feira (02/11) parece ter amenizado os temores de recessão global e o carbono segurou firme.
“Podemos esperar maior consolidação no carbono e possivelmente uma recuperação nas próximas semanas, mas não é bom nos empolgar muito no longo prazo, dada oferta em demasia e ausência de um substituto para o Protocolo de Quioto”, comentou Nigel Brunel da OMFinancial.
Com a queda dos preços do carbono, já era de se esperar que as empresas do setor apresentassem números negativos.
Na segunda-feira (07/11) a empresa britânica Trading Emissions divulgou dados de mais um ano de perdas nos lucros (baixa de 40% nas ações ao longo do ano) após a confirmação há três semanas de que seu presidente e três dos cinco diretores restantes deixaram o cargo, segundo o Financial Times.
Participantes dos mercados estão usando todas as suas armas para pressionar tomadores de decisão de seus países a concordar sobre medidas que dariam sinais positivos para a continuação do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) e fortalecimento dos esquemas compulsórios após 2012.
“Os negociadores deveriam estar preocupados com os preços baixos históricos do carbono ao passo que reflete, em certo grau, a falta de confiança no comprometimento de longo prazo com as metas existentes de redução das emissões, assim como contínuas incertezas em relação ao acordo internacional”, lamentou Jose Tumkaya, chefe de operações da desenvolvedora de projetos EcoSecurities.
No geral, a expectativa é que o mercado continue apesar das esperanças reduzidas que os esclarecimentos tão clamados pelo setor sejam oferecidos em Durban.
Até mesmo o Comitê Executivo do MDL demonstrou preocupação que “atualmente há um risco considerável de perda do engajamento do setor privado e do ímpeto na mitigação das mudanças climáticas, algo que o MDL tem sido vital”, disse o comitê na minuta de um relatório anual.
No mínimo uma preocupação a menos no conturbado mercado europeu, as medidas de segurança adotadas pelos registros de emissões na União Européia parecem estar surtindo efeito.
A Espanha decidiu fechar seu registro após detectar duas transferências não autorizadas de créditos de emissões. Esta é a segunda vez que um episódio como este acontece este ano, porém em ambas as transferências foram bloqueadas.
As negociações a vista de créditos de carbono estão suspensas temporariamente e o registro será reaberto “quando informações suficientes sobre o incidente forem coletadas e  as condições para o nível máximo de segurança forem determinadas”, comentou a porta-voz do ministério do Meio Ambiente espanhol à Point Carbon News.
Algumas medidas de segurança acordadas pelos países membros da UE em junho, adicionais a ações assumidas pelas bolsas, devem entrar em vigor no mês que vem e outras em 2012, quando a plataforma comum para todos países estiver operacional.

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