sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

BLITZ


Petrobras prepara blitz marítima para atender pré-sal
O trabalhador sai de casa, pega duas a três conduções e demora até cinco horas para chegar ao local de trabalho. Nada muito fora da realidade que muitos brasileiros enfrentam no cotidiano das grandes cidades. A diferença está no fato de o “escritório de trabalho” estar situado a 300 quilômetros da costa brasileira: uma plataforma do pré-sal.
Helicópteros de grande porte, lanchas ultrarrápidas e hubs marítimos (espécie de ilhas artificiais), estão sendo mobilizados pela Petrobras para o atendimento logístico da nova fronteira petrolífera. Há um plano da estatal para construção de novos aeroportos e portos, além da adoção de um sistema inteligente de rastreamento de todas as cargas embarcadas em direção às plataformas.
A locomoção de pessoas e cargas para explorar o petróleo no mar não é uma novidade. Mas o que se faz no mar sempre é mais difícil do que fazer em terra. A primeira exploração de petróleo no mar, em águas rasas, começou em 1947 na Louisiana, nos Estados Unidos. Desde meados dos anos 1970, quando a Petrobras começou a exploração de óleo na bacia de Campos, o vai-e-vem nas plataformas marítimas no Brasil é frenético.
Mas a estrutura que está sendo montada pela Petrobras não tem precedente na história da indústria petrolífera. “A gente tem uma condição que só se repete aqui”, diz o gerente-geral da unidade de serviços de logística da Petrobras, Ricardo Albuquerque Araújo. “Em nenhum lugar do mundo, uma grande operação numa grande área offshore é feita por uma única empresa.”
De acordo com Araújo, no Golfo do México, há inúmeras plataformas administradas por inúmeras empresas e inúmeras logísticas. “No Mar do Norte, há menos plataformas operadas por menos empresas e logísticas menores. E na Costa da África, é tudo bem fragmentado.”
Operação aérea entre os 20 maiores aeroportos
Na sala em que ocupa no 9º andar de um prédio na praia de Imbetiba, no município fluminense de Macaé, com vista ao porto onde partem as embarcações de apoio para as plataformas da bacia de Campos, a grande descoberta da Petrobras até o advento do pré-sal, Araújo responde pela logística que atende a companhia.
Para o deslocamento de pessoas, a Petrobras vai transportar o dobro de contingente para as plataformas até 2017. Atualmente, os helicópteros levam e trazem 70 mil passageiros por mês, o que dá uma oferta de cerca de 850 mil passageiros por ano. A previsão é chegar a 1,6 milhão de passageiros, o que colocaria a operação da Petrobras entre os 20 aeroportos com maior volume de passageiros do País.
A nova demanda significará um aumento na oferta de helicópteros de grande porte contratados pela Petrobras. São aeronaves que transportam entre 18 a 20 pessoas, incluindo o piloto, copiloto e um comissário de bordo.
No início da década, a Petrobras mapeou o uso de helicópteros no mundo offshore e sentiu-se confortável na escolha de dois modelos: o S92, fabricado pela americana Sikorsky, e o EC-225, da francesa Eurocopter, ambos inspirados em versões de modelos militares. Cada uma custa por volta de US$ 15 milhões a US$ 20 milhões, dependendo das opções de acessórios.
Atingindo velocidade de até 280 quilômetros por hora, a grande vantagem das aeronaves de grande porte é a autonomia de voo. Pelas normas da Petrobras, um helicóptero com lotação completa tem de possuir capacidade de aterrisar numa plataforma do pré-sal, voltar ao continente e sobrar ainda meia hora como margem de segurança.
Desde 2008, a empresa passou a contratar esse tipo de aeronave de empresas de taxi aéreo. Atualmente, há 15 contratadas, das quais 12 estão em operação, existindo a possibilidade de aumentar já que a proporção do número de assentos será 50% de grande porte e 50% de médio porte.
Hub marítimos
No entanto, nem todos vão utilizar os helicópteros em viagens longas. A Petrobras planeja criar um hub marítimo, como se fossem ilhas artificiais. A ideia não é alguém numa ilha tomando água de coco, pegando sol, a intenção é transformar uma plataforma ou um navio em um ponto intermédio no mar.
No plano em estudo, os empregados chegarão de lanchas ultrarrápidas, farão o transbordo para o hub marítimo e, de lá, pegarão um helicóptero de médio porte que acomoda 12 passageiros até a plataforma do pré-sal. As lanchas, espécies de ferry-boats, terão velocidade de 30 nós, o equivalente a 55 quilômetros por hora, e as viagens não poderão durar mais do que cinco horas, a depender do bem estar e conforto oferecido ao passageiro.
Na viagem, tempo para uma soneca ou assistir um filme. As lanchas poderão ter 400 a 500 passageiros bem acomodados em poltronas iguais as de cinemas. No caso das ilhas artificiais, a Petrobras estuda criar alojamentos e helipontos. A Petrobras ainda define o melhor formato da operação prevista para começar em 2014, mas Araújo acredita que a decisão sobre como fazer ainda pode sair ainda neste ano.
Novos aeroportos e portos
Para comportar as novas operações, a Petrobras planeja expandir sua base logística em terra até 2017. Hoje, a estatal opera em sete aeroportos e prevê mais três bases para decolagem e pouso de helicópteros: Um novo em Campos dos Goytacazes (RJ), outro novinho em Itaguaí (RJ) e um terceiro na Base Aérea de Santos, que fica, ironicamente, no Guarujá (SP). No caso dos portos, a ideia é construir também três novas bases para as atuais quatro operações portuárias: Anchieta (ES), Itaguaí (RJ) e Santos (SP).
A Petrobras tem 240 embarcações, dos quais metade com bandeira brasileira. E elas vêm para cá do Mar do Norte, da África, as plataformas chegam da China, da Coreia. Teoricamente, podem atingir qualquer distância.
Mas existe um esforço adicional para o atendimento da nova logística. As sondas e plataformas do pré-sal estão situadas a 300 quilômetros da costa, o dobro da distância dos atuais poços da bacia de Campos.
Como os equipamentos de perfuração são caros, eles precisam chegar ‘just in time’. Numa distância maior da origem ao destino, a margem de erro é estreita. E errar gera um custo maior.
Sistema de rastreamento
Para mitigar o erro no alcance da longa distância, a empresa está testando um sistema que permite rastrear toda a carga. Desde o armazém no porto, passando pelas embarcações até chegar às plataformas, os equipamentos e mercadorias, entre outros, receberão um chip com código de barras. À distância, eles poderão ser rastreados por meio de rádio frequência (RFID).
Saber com antecedência o que chega e na hora exata que chega ajuda a administrar a falta de espaço numa plataforma, a parte mais vulnerável em qualquer instalação em alto-mar. Não se ocupa um convés com carga desnecessária. É preciso sincronizar a logística para diminuir bastante as longas distâncias que o pré-sal impõe.

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