quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PALMADA


O Limite da Palmada 
Qual será a sociedade do futuro se hoje os pais não construírem limites para seus filhos? Talvez uma sociedade de adultos despreparados para as incertezas da vida e sem consciência de que o mundo não gire em torno deles. Mas qual a saída para ajudar pais e responsáveis nessa difícil missão de educar crianças cada vez mais conectadas pela tecnologia a diferentes realidades e estímulos? Existem inúmeros caminhos de suporte educacional distantes da maioria da população, mas, com a aprovação, na semana passada, da Lei da Palmada, proibindo o uso de castigos corporais sem dar às famílias subsídios para adotarem um comportamento diferenciado na hora de impor limites às suas crianças, o governo está apenas criando mais um assunto para as rodas de psicólogos e especialistas no tema.
 Muitos pais na infância viveram a rotina da palmada para aprender o que não “deve ser feito”, desconhecendo outras soluções educativas. Se não viveram essa rotina na infância, para muitos, a palmada é apenas o reflexo da falta de paciência para optar pelo caminho do diálogo, situação muito comum nos dias de hoje, em que a maioria dos pais trabalha fora e passa grande parte do tempo longe de casa. Muitos, inclusive, exatamente por estarem ausentes quase em tempo integral, se sentem culpados por isso e preferem até mesmo não impor limite nenhum.
 Paralelamente, uma lei desse tipo gera outras situações controversas. A falta de informação sobre as regras que estabelece pode, amanhã ou depois, levar um filho a agredir um pai e achar-se no direito de ameaçá-lo de denúncia se ele retrucar. Por outro lado, o que um pai considera como “palmada”, para outro, pode ser considerado uma agressão mais violenta, e vice-versa. Cada um tem uma concepção diferente. Não dá para colocar a questão da educação e da saúde da criança e do adolescente num "mesmo saco”. Além disso, é utópico imaginar que uma lei dessa natureza conseguirá interferir na rotina preestabelecida das famílias.
 Prática corriqueira na educação do passado, a partir do final do século 20, a punição física passa a ser mal vista por psicólogos e profissionais da educação, assim como qualquer castigo físico direcionado às crianças. É a partir da década de 80 que começam a surgir os primeiros programas específicos para atendimento dessa problemática e, em 1990, é criado o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Seja qual for o caminho pedagógico ou psicológico adotado, uma coisa é certa: criança precisa de limites. Mas um limite saudável. E, muitas vezes, dar uma palmada significa meramente aplicar um castigo, e não impor o limite efetivamente. É preciso levar a público, de forma massificada, que existem formas saudáveis de se impor esses limites, seja através de campanhas educativas, realização de terapias direcionadas em unidades públicas voltadas para as famílias ou interferências dos poderes públicos nas políticas de ensino e pedagógicas. É possível construir uma sociedade sem violência doméstica e com cidadãos mais bem preparados para a vida. Mas, assim como educar, isso dá um baita trabalho.




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