Protocolos da praia carioca
Por Joaquim Ferreira dos Santos
Sem medo do mate com limão no galão
Só carioca toma o mate de galão sem medo, sem ficar querendo saber de onde vem essa água.
A cultura do “ficar em pé” na beira do mar
Carioca que é carioca vai dar um mergulho e depois fica em pé, geralmente na beira da água, para secar. Só no Rio é que tem essa cultura do ficar-em-pé-na-praia.
Tire o chinelo para pisar na areia
O carioca sempre tira o chinelo assim que pisa na areia. Ele sai do calçadão e já vai tirando, desce descalço. E se a areia estiver escaldante? Ele vai correndo. Mas, na areia com chinelo no pé, nunca.
Deixe o sol na santa paz do céu
Bater palmas para o pôr do sol era um charme do carioca, mas virou coisa de gringo. O carioca ficou constrangido de fazer isso. Agora que todo mundo faz a gente não quer mais.
Tem areia na canga? Sacode pra lá
Cariocas não sacodem a canga no meio das pessoas. Sabem que o vento leva a areia que está em cima e pode cair em quem está ao lado.
Somos todos famosos nessa praia
Carioca vê famoso na praia, esbarra com Chico Buarque, e age normalmente, finge que não vê. Quem é de fora fica cochichando, quer tirar foto.
Sunga fininha, só se for turista europeu
Os cariocas ficaram mais comportados em relação à sunga. Ninguém usa mais sunga fininha do lado, só os turistas europeus.
Lugar de camarão é dentro da empada
Não tem como alguém que é do Rio comer camarão na praia. Carioca come biscoito, esfiha, empada, milho ou sanduiche.
Havaiana não solta tira e nem tem salto
É mole identificar as forasteiras que querem tirar onda nos locais: elas usam coisas como havaianas com salto e chapéus de caubói de lona, com aqueles abomináveis furinhos do lado.
Fidelidade na praia, ainda que à tardinha
Cariocas têm seus fornecedores e são fiéis. Bebem na mesma barraca e acertam a conta depois.
Ficar de biquíni é na areia. Só na areia
Ficar de biquíni é para a carioca que está na areia. Se ela vai andar no calçadão, bota sempre alguma coisa por cima. Andar só de biquíni lá em cima, isso ela não faz. Ao contrário de quem não é do Rio, a carioca sabe separar o que é balneário e o que é cidade.
Sunga, dinheiro a chave de casa
Mochila na praia é típico de quem leva muita coisa para passar o dia fora do hotel. Carioca é minimalista, leva dinheiro e chave de casa.
Da arte de amarrara a canga na cadeira
Só as cariocas dominam a arte de amarrar a canga atrás da cadeira alugada na praia para evitar que ela fique embolada. É meio nojento sentar direto nas cadeiras alugadas porque tem o suor dos outros, dá medo de pegar pereba.
É em pé que se tira a roupa na praia
Chegar na praia e tirar a roupa em pé, antes de sentar na canga, é típico da carioca. O ritual inclui uma quebradinha de pescoço para olhar o para trás e conferir seu próprio bumbum.
O descobrimento da parte de cima
Cariocas jamais botam só camiseta por cima do biquíni quando começa a ventar na praia. A parte de baixo é que fica coberta. Pode ser com vestido, saia ou short. Só com o sutiã do biquíni, na maior.
Deite na canga, mas não se enrole
Ir à praia enrolada na canga é uma coisa que a carioca na faz mais. Canga é usada para não se sentar direto na areia, e nisso ela é insubstituível para quem pega sol deitada e quer queimar por igual.
Couro e areia, uma mistura estranha
Cariocas não usam aquelas sandálias pesadonas de couro, tipo escalador. Só quem não é daqui para ir à praia sem ser de chinelo de borracha, tipo Havaianas. Descalço também rola, principalmente para quem vai pegar onda e não quer levar nada além da prancha.
Tatuagem é de verdade, não de henna
Tatuagem de henna na praia é uma coisa de quem vem de fora. Carioca que é carioca se tatua de verdade, é para sempre, e gosta de mostrá-las quando está na praia.
O ombro que carrega a bicicleta
Quando vai à praia de bicicleta, o carioca não tem o hábito de deixá-la presa no bicicletário. Ele a quer sempre por perto, por isso, desce com a bike no ombro, tomando cuidado para não entrar areia na corrente.
Dar uma olhadinha é tradição
Cariocas sempre pedem e aceitam numa boa tomar conta das coisas do outro enquanto ele dá um mergulho. Tem que dizer “pode dar uma olhadinha pra mim?”. É esse o vocabulário que a gente usa aqui no Rio.
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