Passividade da População diante de tanta Corrupção
É simplesmente incrível o desinteresse, ou pior ainda, a passividade que a maioria da população demonstra diante das proporções que a corrupção tomou em nosso país.
Até é bem compreensível que os setores de menor renda que somente começaram a perceber os benefícios do boom econômico a partir principalmente de 2004 e os associaram às ações do governo, que de forma muito competente capitalizou essa associação, até porque em parte foi mesmo responsável por tais benefícios, aceitem naturalmente o que antigamente se denominava "rouba mais faz".
Afinal, para quem não tinha nada, começar a ter alguma coisa, um salário mínimo com melhor poder de compra, por exemplo, ou a possibilidade de adquirir um bem antes inacessível, mesmo que pagando os maiores juros do planeta, houve mesmo progresso e seria má-fé política ou cegueira ideológica tentar negar isso.
Mas o que espanta é a passividade e acomodação da classe média tradicional. Pois não sei se ela percebeu, desde a época do plano Real (que de certa forma também a beneficiou ao manter o poder da moeda) e muito mais nos governos que se seguiram, foi quem financiou boa parte desse avanço social.
A carga tributária castiga muito mais a classe média, pois os mais ricos dispõem da informação e dos meios para pagar relativamente menos e isso não acontece só no Brasil. Recentemente o bilionário Warren Buffet reconheceu que em termos percentuais paga muito menos impostos que os seus empregados e que isso não é bom para a economia e para o povo norte americano.
Mas em nosso país além de pagar mais ao fisco do que os mais pobres ou mais ricos, a classe média ainda é obrigada a assistir o dinheiro desses impostos escorrer pelo ralo das ONGs associadas aos partidos políticos que partilham o poder e que não tem a menor vergonha de beneficiar os seus. E em alguns casos certos parlamentares até defendem e se vangloriam disso.
Recentemente a própria Comissão de Ética da Presidência da República, diante do óbvio não pôde fazer nada além de recomendar, por unanimidade, diga-se de passagem, a exoneração do Ministro do Trabalho que tão cioso e confiante estava sobre a manutenção do cargo que até fanfarroneou na imprensa que dele só sairia à bala "e de grosso calibre".
E o fez provavelmente confiado na importância que o seu partido tem na composição da chamada "base aliada" do governo. Afinal os outros ministros que foram obrigados a jogar a toalha pelas evidências de corrupção em seus respectivos ministérios pertenciam a partidos com menor representação e, portanto menos importantes para a sustentação política do atual governo.
No Brasil, principalmente após o episódio conhecido como mensalão que serviu como divisor de águas para a avaliação dos políticos em relação à indiferença da população para com os seus "malfeitos", como singelamente os denomina a presidente criou-se uma associação monstruosa e completamente falsa entre governabilidade e corrupção.
Parece ser totalmente impossível a qualquer presidente governar o país sem ceder à ambição dos políticos que usam o mandato como moeda de troca para aprovar o que o governo quer ou precisa aprovar. Agora além da impunidade pela via das morosidades da justiça e das brechas da lei, exige-se também que os tais "malfeitos" sejam ignorados, pelo menos quando os "malfeitores" (não é assim que se chamam autores de "malfeitos"?) encontram-se subordinados a ministros de um partido importante para a tal governabilidade.
Percebe-se claramente a intenção, ou pelo menos o desejo (ou sonho?) da presidente Dilma em colocar, ao menos nos ministérios chave em relação às ações mais necessárias para romper com a estagnação que o país começa a reviver após o recrudescimento da crise econômica, pessoas competentes e de perfil mais técnico, mas o sistema político na verdade a impede.
O problema é que ela tem duas desvantagens que o seu antecessor e padrinho político não tinha:
Ao contrário dele, ela assumiu o governo em um período de grandes dificuldades econômicas que reduziram as exportações e o preço dos produtos primários que atualmente se constituem na maior parte do que mandamos para fora, já que a valorização do Real e a baixa competitividade causada por fatores crônicos como burocracia, excesso de impostos, logística deficiente além da própria corrupção estão aos poucos corroendo a indústria nacional.
Além disso, e sei que ao afirmar isso vou atrair a ira de muita gente que não admite nenhuma crítica, por mínima que seja, ao nosso ex-presidente, este se sentia muito mais à vontade e demonstrava mais tolerância com os "malfeitos" daquele que o cercavam a ponto de chamá-los carinhosamente de "meninos" ou no pior dos casos de "aloprados", o que é claro, tinha o condão de minimizar a ilegalidade ou falta de ética de suas ações isentando-os de responsabilidade como se faz com os absolutamente incapazes e menores de 16 anos. Apenas crianças travessas merecedoras no máximo de um puxãozinho em suas orelhas.
Antigamente reclamava-se muito do fato de que o Brasil exportava matéria-prima a preço de banana e comprava produtos criados com essa mesma matéria-prima das nações industrializadas, principalmente dos americanos.
Bem, agora estamos fazendo exatamente a mesma coisa. A diferença é que agora compramos dos chineses. E a avaliar pela atitude dos políticos em relação ao pré-sal, toda a riqueza que poderá advir no futuro a partir dele só irá contribuir para acirrar ainda mais essa tendência.
Enquanto a classe média não parar de olhar para o próprio umbigo, para o seu mundinho limitado e se conformar a trabalhar quase cinco meses por ano só para pagar impostos e achar que a corrupção dos políticos em nada a afeta continuaremos nessa rota em direção a sabe-se lá o que.
Uma boa atitude é começar a participar dos protestos contra a corrupção que ultimamente começaram a pipocar espontaneamente nas capitais brasileiras sem a participação de partidos políticos, sindicalistas e entidades estudantis que nada mais são do que sucursais desses mesmos partidos.
Outra é ficar de olho em um projeto de lei que o senador João Capiberibe está querendo apresentar e que regulamenta o parágrafo 5º do Art. 150 da Constituição que diz que:
"A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços"
Até hoje nenhum parlamentar e muito menos o executivo interessou-se na criação de uma tal lei. E é fácil entender o porquê: mostrar ao consumidor na embalagem de cada produto ou na nota de cada serviço pelo qual ele está pagando, a quantidade de dinheiro suado do seu trabalho que está indo para o fisco tem um potencial explosivo e moralizador, na medida em que torna muito mais difícil a criação ou aumento de impostos e conseqüentemente obriga o governo a gastar melhor o que arrecadar.
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