Ciência desvenda ‘arma’ para cura da cárie
Seja falso ou verdadeiro, o sorriso marca a expressão facial. Os dentes à mostra resumem a felicidade de determinados momentos, mas para muitos, sorrir ainda é sinônimo de constrangimento. Alguns chegam a esconder a boca com as mãos ao soltar uma gargalhada. Por detrás do gesto, a cárie revela o poder de destruição ao alastrar-se pelos dentes. A boa notícia é que pesquisadores encontraram em plantas amazônicas o potencial para combater esse mal e garantir o sorriso, não só dos brasileiros, mas de toda a humanidade.
Das espécies estudadas, três resultaram em dez produtos odontológicos. Na análise, o Breu-branco, a laranjinha e a tiririca se mostraram fortes aliados na remoção do biofilme.
A pesquisa é coordenada pelo doutor em biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Renilto Frota Corrêa. Segundo o especialista, os produtos são a cura da cárie dentária, desde que usados de modo preventivo. “É a cura da cárie. Mas é a cura através da prevenção. Para obter o resultado, a pessoa deve escovar os dentes, fazer o bochecho e desinfetar a escova dentária por imersão no desinfetante, produzidos à partir das plantas”, frisou.
Corrêa decidiu pesquisar as plantas amazônicas após trabalhar oito anos como cirurgião-dentista do Exército Brasileiro no Amazonas. Nesse período, o pesquisador participou de missões cívico-sociais, nos municípios do Estado, onde constatou que a cárie era um dos principais problemas enfrentados pelas comunidades do interior. Segundo Corrêa, em cada missão, os odontólogos extraiam de 500 a 800 dentes.
O número escancara a realidade da doença na região. Em todo o País, o Norte possui o maior índice de pessoas com dentes cariados, perdidos ou obturados (CPOD), de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (SB Brasil) do Ministério da Saúde, realizada entre 2003 e 2010. Durante o período, cerca de 38 mil pessoas entre crianças de 5 a 12 anos, adolescentes de 15 a 19 anos, adultos de 35 a 44 anos e idosos de 65 a 74 anos realizaram exames bucais para a comprovação dos dados.
Produtos
Como solução para o problema que atinge a região, os pesquisadores criaram produtos odontológicos para combater a cárie. Na área de prevenção, eles desenvolveram um gel dental infantil; um creme dental com flúor para adultos; uma pasta profilática com flúor para uso profissional (para limpeza de dentes em consultório odontológico); um antisséptico bucal (bochecho); um desinfetante para escova de dente, prótese dentária e aparelhos ortodônticos removíveis. Com o antisséptico, bastam cinco minutos para desinfetar os materiais. “A escova está cheia de bactérias. Ao escovar os dentes, a pessoa está sempre fazendo o que nós chamamos de reinfecção”, comenta Corrêa.
Na área endodôntica, os inventores criaram uma pasta de hidróxido de cálcio para tratamento de canal. Para a proteção de profissionais, eles produziram um spray profilático cicatrizante com fixador antimicrobiano; um desinfetante líquido a base de óleos amazônicos; um sabonete líquido e um sabonete glicerinado, ambos com ação antimicrobiana e cicatrizante.
Os dez produtos odontológicos criados a partir da pesquisa foram patenteados no Brasil, Estados Unidos e Europa. Em breve, os fitoterápicos conquistarão o mercado consumidor. A eficácia deles chamou a atenção da indústria brasileira e internacional. Segundo Corrêa, três multinacionais e uma empresa nacional do Rio de Janeiro querem produzir e comercializar os produtos. Os chineses também procuraram o Inpa, após uma apresentação das invenções em uma feira realizada pelo Instituto. Com a pesquisa, os inventores conquistaram o segundo lugar no Prêmio Samuel Benchimol 2011, na categoria Econômica/Tecnológica.
Testes em humanos
Para Corrêa, os testes em laboratório mostraram resultados positivos. De acordo com o cirurgião-dentista, dos 200 ratos usados na pesquisa, nenhum morreu ou apresentou alterações nas estruturas internas. “Isso significa dizer que houve tolerância do organismo em relação às substâncias na dosagem que propomos”, ressaltou o pesquisador.
Com os testes, os cientistas conseguiram chegar à dose para ser testada em humanos. Mas, o Amazonas não possui local para realizar esse tipo de análise. De acordo com Renilto, os pesquisadores planejam criar, no Estado, um núcleo para testar clinicamente novos medicamentos em pessoas. Nesse núcleo, pacientes em tratamento, assinariam um termo para participarem da pesquisa. Após o período de testes, os pesquisadores analisariam os dados para propor a dosagem do produto na indústria. Como parte das exigências, a criação do núcleo precisa passar pela aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Para Corrêa, as plantas amazônicas apresentam potencialidades na medicina e na odontologia, mesmo àquelas desprezadas por outros setores da sociedade. Na agricultura, por exemplo, os produtores consideram a tiririca uma praga. Mas, a planta revelou ser um potente removedor do biofilme. “Nos pastos, o pessoal remove a tiririca para plantar soja. Agora com a descoberta, acho que vão tirar a soja para plantar a tiririca”, brincou Corrêa. Em algumas localidades, o tubérculo (batata) da tiririca, também é comestível. Segundo Corrêa, as pessoas que comem a batatinha dificilmente adquirem a cárie.
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