Modelos Climáticos e a Extinção de Espécies
A perda da diversidade de animais e plantas devido a mudanças climáticas pode estar sendo subestimada. A conclusão é de um estudo de três pesquisadores americanos que foi publicado nesta terça-feira (03/01) no periódico científico Proceedings of the Royal Society B.
Utilizando um modelo matemático, Mark Urban, da Universidade de Connecticut, Josh Tewksbury e Kimberly Sheldon da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, avaliaram que as previsões atuais não estão levando em conta fatores importantes ao calcular a extinção das espécies.
Entre os fatores desprezados estão o fato de animais competirem entre si, se alimentarem uns dos outros e terem níveis de adaptação diferentes às mudanças de clima. “Já esperávamos que a interação entre as espécies afetasse de alguma forma a resposta ao modelo de clima, mas ficamos surpresos com o nível em que isto é verdade”.
O modelo criado pelos pesquisadores mostrou que a capacidade de sobrevivência das espécies está diretamente ligada a capacidade de dispersão que elas têm. “As extinções são mais comuns em espécies pouco aptas à dispersão, e também quando isto acontece mais lentamente do que com seus competidores. A razão é que espécies que se movimentam mais rápido passam por cima das espécies que estão à sua frente e rapidamente tomam seu habitat”, explicou Urban.
Um exemplo disto é o aumento da temperatura que já está fazendo com que plantas e animais se mudem para locais mais altos e frios. No entanto, nem todas as espécies que necessitam migrar conseguem dispersar de modo rápido o suficiente. Muitas morrem antes mesmo de encontrar o novo habitat, ou encontram outras espécies que competem pelo mesmo espaço, para não falar daquelas que já viviam no local.
O próximo passo da pesquisa será fazer previsões mais específicas para diferentes ecossistemas. “Infelizmente ainda não conseguimos fazer uma previsão de valores de extinção. Nosso modelo é muito geral o que faz com que seja bom para testar a sensibilidade das previsões a diferentes premissas. O lado ruim é que o modelo não se aplica a nenhum sistema específico. Nossos resultados, porém, sugerem que os modelos climáticos que não levam em conta as diferenças de competição e dispersão entre as espécies podem estar subestimando os riscos de extinção”, completou Urban.
A sexta grande extinção parece estar a caminho
Nos últimos 540 milhões de anos, a Terra passou por 5 grandes extinções em massa nas quais 75% das espécies do planeta foram varridas do mapa. Já atualmente a perda de espécies no mundo está em ritmo acelerado, e se nada for feito, pode chegar a ser um evento catastrófico do porte como o que varreu os dinossauros da Terra há cerca de 65 milhões de anos, segundo pesquisa publicada nesta quarta-feira (04/01) pelo periódico científico Nature.
“Até agora perdemos apenas uma pequena porcentagem de espécies, ou seja, ainda podemos salvar a maior parte da biodiversidade da Terra. Esta é a boa notícia. A má é que mesmo da forma conservadora com que fizemos a comparação entre a crise de extinção atual e a que ocorreu nas cinco grandes extinções em massa passadas, a taxa de agora é muito maior. Se as espécies classificadas atualmente como em perigo de extinção forem realmente extintas e a taxa de extinção continuar inalterada, a sexta grande extinção poderia ocorrer em um período tão pequeno como entre 600 e 22 mil anos”, explicou Anthony Barnorsky, principal autor do artigo, da Universidade de Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos.
Barnorsky alerta para a necessidade de mudar a velocidade com que a Terra está perdendo espécies. “É essencial que diminuamos a taxa de extinção atual”, afirmou ele. E esta tarefa cabe basicamente à espécie humana. “Já que somos os responsáveis por estar levando à sexta extinção em massa também temos o poder de evitá-la. As causas do que está acontecendo são fragmentação do habitat (causado por ações como o desmatamento desmedido), espécies invasoras que se movem pelo planeta, mudança climática causada pelo homem e o aumento do número de pessoas no planeta. Podemos evitar a sexta extinção controlando essas causas com esforços locais e globais”, completou ele.
No caso da sexta extinção em massa realmente ocorrer o mundo ficaria muito, muito pobre. Com a morte de três quartos das espécies existentes hoje, provavelmente não haveria mais comida devido à extinção dos ecossistemas das quais animais e plantas dependem para existir. “Os humanos provavelmente sobreviveriam. O problema é que o motor da crise atual é o uso excessivo dos recursos do planeta pela nossa espécie. Quando o limite do uso de recursos é ultrapassado, o tamanho das populações inevitavelmente diminui vertiginosamente. Não me surpreenderia se as populações humanas também fossem seriamente afetadas por esta diminuição. Logo provavelmente sobreviveríamos como espécie, mas em um mundo muito mais pobre e após ver uma grande restrição no tamanho da população humana global”, completou Barnorsky.
Nenhum comentário:
Postar um comentário