Traição ou oportunismo
Pedro Ernesto (1886/1942) entrou na política, depois imitado por tantos outros posteriormente, pela porta do assistencialismo. Sua atuação era concentrada na Zona Oeste do Rio, onde tinha uma clientela humilde e pobre. Foi vereador e prefeito, abençoado pelas mãos do ditador Getúlio Vargas (depois GV virou constitucionalista), que foi também seu carrasco. Entrou na política como santo e saiu dela como lúcifer, suspeito de traição contra o poderoso ditador.
Muitos o imitaram e ainda o imitam, mas, como os tempos mudaram, as formas e os métodos de fazer política são diferentes. Pedro Ernesto, pelo que se pode depreender, teria agido com oportunismo, provavelmente se imaginando na pele de um líder, mas desprovido das condições para liderar. Depois da queda de Pedro Ernesto, em 1936, cuja trajetória política ficou na histórica da cidade do Rio de Janeiro, ninguém quis o seguir, pois poucos se aventuraram a lances de autonomia política.
Da segunda metade do século XX para cá, os que atuaram nos palcos políticos do país e, particularmente, do Rio de Janeiro, passaram pelo Palácio Tiradentes, sede da Câmara dos Deputados e hoje da Assembleia Legislativa fluminense. Até a fusão dos antigos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, em 1975, o Palácio Tiradentes viveu momentos de glória e os debates eram calorosos em torno de temas palpitantes, girando principalmente sobre a Constituição e o Estado de Direito.
Os políticos tinham poder, mesmo não estando no poder, porque demonstravam a força do verbo, da cultura e do saber. E a Assembleia política tinha voz e não apenas voto. Quando um parlamentar assomava à tribuna era ouvido, respeitosamente, pelos colegas e também pelas galerias ocupadas por homens e jovens interessados em conhecer o pensamento do orador, mas não refutavam. Ouviam silenciosos. Quem redarguia, quando o discurso era da oposição, eram as lideranças do Governo. Quando os representantes deste falavam, quem rebatia, contra argumentando, eram os representantes da oposição.
Nos dias de hoje, alguns nomes que estão no poder não são poder, apenas usufruem dele, quer estejam no Palácio Guanabara, quer estejam no Palácio Tiradentes, porque o poder é exercido pela pressão e a contrapressão, de um lado e do outro. E no meio deles está a traição ou o oportunismo subjacente.
Vejam apenas um pequeno exemplo: um prefeito da Baixada Fluminense é adversário do governador e a mulher dele, uma aliada do Palácio Guanabara. Amanhã, quem sabe, a deputada pode vir a ser inimiga política do governador e voltar aos braços políticos do marido.
Vejam apenas um pequeno exemplo: um prefeito da Baixada Fluminense é adversário do governador e a mulher dele, uma aliada do Palácio Guanabara. Amanhã, quem sabe, a deputada pode vir a ser inimiga política do governador e voltar aos braços políticos do marido.
Mas esses arroubos e afagos não se dão apenas entre as mulheres. Os homens também pintam e bordam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário