segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

VALE


Navio da Vale é levado para alto mar
Após duas tentativas frustradas de retirar parte das sete mil toneladas de combustível de seus tanques nas últimas duas semanas, o navio Vale Beijing, que ameaça naufragar na costa maranhense, foi rebocado para o alto mar, a 64 quilômetros do porto de São Luís.
Um mês após apresentar rachaduras no casco, o navio encomendado pela mineradora Vale a um estaleiro sul coreano ainda está longe de ter seu destino definido.
Até agora não foi encontrada nenhuma solução para reparar as avarias surgidas na viagem inaugural da embarcação, uma das maiores do mundo. Para se manter estável, o Vale Beijing precisa do auxilio diário de três rebocadores.
Por conta das rachaduras no casco, que permitiram a entrada de água nos tanques de lastro, a popa do navio – a parte de trás da embarcação – está mais afundada do que a proa, o que na teoria poderia causar o rompimento do Vale Beijing ao meio.
Por conta disso, ontem a companhia holandesa Smit, contratada para salvar o navio, estava programada para iniciar a transferência de cerca de 25 mil toneladas de minério de ferros do porão traseiro para porões mais próximos à proa do navio, afim de reduzir o risco de um acidente e dar mais estabilidade á embarcação.
Até agora, no entanto, não há nenhuma previsão de quando ou mesmo se será possível reparar o gigantesco navio de mais de 360 metros de comprimento e capaz de carregar quase 400 mil toneladas de minério de ferro, o suficiente para produzir aço para construir três pontes como a Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos.
Nem a STX Pan Ocean, a dona do navio, ou a Vale, que encomendou a embarcação ao estaleiro sul coreano STX e o arrendou por 25 anos, apresentaram qualquer plano de reparo do Vale Beijing.
As duas empresas também têm se negado a prestar informações publicamente. A Vale, que encomendou 35 navios como o Vale Beijing a estaleiros chineses e sul coreanos recusa-se a tratar do assunto e afirma que toda a responsabilidade pelo ocorrido é da STX Pan Ocean. A empresa coreana, por sua vez, afirma que as informações só serão repassadas à Capitania dos Portos de São Luís.
Já a Capitania informa que ainda não recebeu um plano para reparar a embarcação ou mesmo retirar o combustível que está no navio-  o que, em caso de acidente, poderia provocar sérios danos ambientais ao ecossistema marinho da região.
Para comandante da Capitania dos Portos de São Luís, o capitão de Mar e Guerra Nelson Calmon Bahia, a única maneira de retirar o combustível é com o auxílio de um petroleiro. "Com a experiência que tenho de Marinha, consigo enxergar apenas essa possibilidade no momento”, referindo-se às dificuldades da operação por conta da situação do Vale Beijing.
De acordo com o superintendente do IBAMA no Maranhão, Pedro Leão, tanto a Smit quanto a STX Pan Ocean estão tentando conseguir um navio petroleiro com a Petrobras para que a remoção do combustível seja realizada. “Nossa avaliação é de que não há risco imediato, mas queremos retirar o combustível para evitar danos ambientais se a situação evoluir de um incidente para um acidente”.





Supercargueiros têm sido fonte de problemas para a Vale
A tremenda dor de cabeça que o supercargueiro Vale Beijing está causando à mineradora brasileira Vale é apenas o último de uma série de problemas que a companhia vem enfrentando desde que decidiu fazer ela própria todo o transporte de minério de ferro que exporta para os quatro cantos do mundo.
Considerado por muitos analistas como um erro estratégico, o ambicioso plano de ter uma frota de 35 supercargueiros a sua disposição, sendo 19 próprios, parece estar mostrando sinais de fadiga. Na semana passada, em entrevista, o presidente da companhia, Murilo Ferreira, afirmou que pretende vender todos os navios que a companhia encomendou aos estaleiros sul-coreanos e chineses e que só serão entregues em sua totalidade em 2013.
A decisão de se desfazer de ativos que ainda nem recebeu mostra que a gestão atual da Vale diverge profundamente da estratégia desenhada por Roger Agnelli, o ex-presidente da companhia. Em 2008, com o preço do frete batendo na casa dos US$ 100 a tonelada, Agnelli decidiu que a companhia deveria voltar a ter uma frota própria, desmantelada pelo próprio executivo sete anos antes com a venda de todos os navios da Docenave.
Para tanto, a Vale decidiu que uma nova categoria de supercargueiros deveria ser construída apenas para servi-la. As embarcações eram tão distintas de tudo que havia no mercado que ganharam uma categoria própria: Valemax.
Não é necessário ser um especialista em navegação para entender o porquê de esses navios terem uma categoria só deles. Tudo nos Valemax é superlativo, a começar por sua capacidade de transporte: entre 380 e 400 mil toneladas.
O maior navio capaz de navegar pelo canal do Panamá, por exemplo, consegue carregar, no máximo 80 mil toneladas. Em tamanho eles são praticamente as maiores coisas que podem flutuar no mundo. O Vale Beijing, por exemplo, tem 365 metros de comprimento. Se colocado em posição vertical, é maior que a Torre Eiffel. Sua capacidade de carga é tão grande que seriam necessárias mais de 11 mil viagens de caminhão para carregá-lo. A quantidade de minério que cabe em seus sete porões tem a capacidade de produzir aço para construir mais de três pontes como a Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos.
Apesar de tantos números impressionantes, até agora os Valemax – a Vale já tem seis deles em operação - ainda não conseguiram cumprir sua principal missão: transportar minério do Brasil para a China. Por conta de um lobby dos armadores chineses, que acusam a Vale de monopólio e de derrubar o preço do frete, o governo de Pequim ainda não autorizou os Valemax a aportarem em seus terminais. A justificativa, até agora, é que os portos chineses não têm capacidade para lidar com as 400 mil toneladas que os navios transportam.
Em junho de 2011, quando a Vale ainda comemorava a primeira viagem de um desses navios, a embarcação teve que simplesmente dar meia volta quando cruzava o Cabo da Boa Esperança, na costa africana. Tudo porque a companhia foi pega de surpresa pela decisão chinesa de não permitir que o navio atracasse. Por conta disso, a embarcação foi desviada para a Itália, onde conseguiu descarregar o minério. Agora, com uma frota de supernavios, a Vale pretende usar uma espécie de centro de distribuição na Malásia para, dali, reembarcar o minério em navios menores e levar para a China.
O caso surpreendeu até os mais céticos dos analistas. É difícil imaginar que uma companhia do tamanho da Vale investiria mais de US$ 6 bilhões em uma frota de supernavios sem antes entrar em acordo com seu principal cliente. Mas, ao que parece, foi isso que aconteceu. A empresa poderia ter negociado essa questão antes, mas como não fez isso, agora não consegue desembarcar o minério de seus próprios navios – muitos deles, inclusive, fabricados na própria China. O momento não é favorável para a Vale.
Além dos problemas legais, a Vale enfrenta agora um problema de ordem econômica. Com uma queda acentuada do valor do frete, que saiu de US$ 100 a tonelada em 2008 para os atuais US$ 30, o retorno do gigantesco investimento que a companhia fez nos navios parece ficar mais distante.
Na entrevista que deu ao Globo, Murilo Ferreira deixou isso claro. “Eles estavam onerando demais o capital da empresa. A companhia tem que focar seus investimentos em níquel, minério de ferro, cobre, carvão e fertilizantes, que é o que ela faz bem.”, afirmou ele. Apesar disso, a companhia diz que pretende manter a estratégia de uso dos Valemax. Murilo Ferreira afirma que só venderá os navios para uma companhia que aceite fazer contratos de longo prazo com a Vale.
A estratégia de vender os navios está acelerada e, se concretizada, vai reduzir os custos financeiros da companhia. Mas é quase certo também, acreditam analistas que acompanham o setor, que a Vale perderá dinheiro na operação. “É praticamente impossível que isso não aconteça”, diz Victor Penna, analista do Banco do Brasil. “A Vale se viu sem saída, a melhor solução é vender os 19 navios mesmo”, diz ele.
E em meio a tudo isso há o Vale Beijing. Este navio especificamente não é da Vale. Pertence ao armador sul coreano STX Pan Ocean, que tem um contrato de 25 anos com a companhia brasileira. Mas, mesmo assim, o incidente levanta uma série de dúvidas sobre os Valemax, que só agora estão entrando em operação.



Nenhum comentário:

Postar um comentário